{Alessandro Manzoni escreveu:
"Um dos maiores consolos desta vida é a amizade; e um dos consolos da amizade é ter a quem confiar um segredo. No entanto, os amigos não são um par, como os esposos; cada um, genericamente falando, tem mais de um... Há homens privilegiados que contam centenas deles".
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CONFIRA O RELATO EMOCIONANTE DE UMA DAS ALUNAS
Por que será que um grupo de escola resolve se encontrar 30 anos depois?
Esta foi a pergunta que me saltou hoje quando acordei.
Talvez esta pergunta também tenha sido feita quando recebi o convite.
Afinal, 30 anos....
30 anos não é exatamente ontem, rs.
Não foi simplesmente um daqueles fins de tarde que meninos e meninas adolescendo com mochilas nas costas, calças jeans, blusas azuis claro de uniformes se despediram, na certeza de se encontrarem novamente no dia seguinte para as aulas de Português, História, Ciências Matemática, Geografia, Educação Física e Artes.
Não foi ontem?
Não fizemos um percurso para casa, acompanhados de outros meninos e meninas com suas primeiras espinhas, primeiros amores, e já com temores da vida que estaria por vir?
Lembro-me como se fosse ontem, dos companheiros de caminho onde beirávamos a passos lentos o rio, e acompanhávamos suas lentas transformações: "hoje está mais vazio", "olha, olha aquele galho", "nossa, como está cheio, será que vai ter enchente?". E claro, as paradas obrigatórias no Pontilhão, para jogar pedra na água, cuspir às gargalhadas, ou só mesmo sentir uma vertigem, que nos fazia pequenos e o rio constante em seu movimento.
E no outro dia, tudo recomeçava, a caminho da escola, encontrar novamente aqueles corpos que deixavam a infância, e ganhavam contornos ora mais arredondados, ora mais esguios, corpos de passagem entre aquilo que éramos e aquilo que iríamos nos tornar.
Entre mochilas e deveres, livros encapados com plástico coloridos (xadrezinho, alguém lembra?), ou com papel plastificado (chiquérrimo na época, como eram os livros e cadernos do Gladson, alguém lembra?) e lápis, lá íamos novamente adentrando o colégio.
Aliás, o Colégio, com letra maiúscula, porque ele era do tamanho dos nossos sonhos, com muros altos, quadra (e o muro da quadra (local importantíssimo onde atualizávamos nossas conversas ), caixa de areia (que a Alessandra nos fazia inveja com seus pulos), árvores, Biblioteca (ah! foi ali que senti com gosto que os livros podiam ser perturbadores), cantina (com seus sacos de pipoca doces pendurados), um pátio imenso de terra batida, que fazia os tênis sujos e também uma alegria de ver a terra ganhando o ar com os bandos.
Havia fila na chegada? Minha memória turva, não sei se só em vez em quando ou diário, mas lembro do coração na boca na formação das filas, nas quais exigiam de nós atenção e retidão, e tudo o que podíamos era mal disfarçar o alvoroço e a inquietação de estarmos perto. Havia microfones e professores em tentativas de apaziguar os ânimos, e havia meninas e meninos em inquietos e urgentes movimentos.
Nas salas, carteiras e novamente tentativas de interesse por tudo aquilo que ia se desfiando em conhecimento, Mas o mais significativo - que é claro que aprendi substantivo, verbo, pronome ou as incógnitas da matemática, os mapas da professora Maria Auxiliadora, claro que a Dark (não sei se é assim que escreve o nome da professora de Artes) ensinou a fazermos as mandalas e a pintá-las com esmero - sim, houve tudo isto, mas o mais significativo foi aprender que a vida era verbo, cheia de incógnitas, com novos mapas sempre a se fazer, e que pintar a vida com as cores próprias seriam nossos maiores desafios.
Na sala, se lembro do quadro, dos professores, dos livros, vem a memória principalmente que eu era rodeada de amigos, e como a gente torcia para sentar perto de quem se gostava um tanto mais do que de outros.
Éramos meninos e meninas as vezes cruéis em sua crueza de vida. Ainda não haviam inventado o conceito de bullyng, mas nós já experimentávamos o exercício da fala franca que nem sempre o outro estava no momento de suportar.
Sem perceber, lá íamos fazendo quem somos hoje, tímidos, alegres, festeiros, silenciosos, escritores, leitores, torcedores, trabalhadores, adultos em formação. E com certeza não estávamos sós neste percurso da produção de uma vida adulta.
É claro que havia família, religião, professores, mas muitas vezes, foi entre nós, os iguais em idade e desenvolvimento, que partilhamos inquietações ou somente silêncios.
Nesta vida adulta (trabalhar, ser mãe, mulher, etc) há poucas pausas. A rotina bate a porta. A responsabilidade também.
Desde que recebi o convite, tenho acessado uma memória que não sabia que existia. E quando digo memória, não são só relatos, são cheiros (da comida do refeitório, por exemplo), cores, sabores, sons e toques. E se há memória (atualização do vivido), não há em mim nenhum saudosismo de um tempo que se foi.
Então, cá com meus botões, respondendo a minha pergunta desta quinta de manhã, pode haver muitos motivos para um re-encontro 30 anos depois.
Pode-se mesmo virar um saudosismo sem fim, como se o nosso tempo tivesse sido aquele somente.
Não é nisto que eu aposto.
A palavra encontro é bem bonita e forte.
É um substantivo que é mais bonito quando verbo: encontrar, ato de colocar-se junto, de dispor-se junto.
Seria dispor das memórias que dispomos e produzir outras?
Encontrar amigos com os quais seguimos esbarrando neste tempo, e encontrar outros que se tornaram imagens borradas (não por gostar menos, apenas porque a vida precisa seguir produzindo novos encontros).
Encontrar, na vida adulta, é produzir uma pausa.
Uma pausa para sonhar junto.
Uma pausa para mais que cantar o passado, uma pausa para ativar em nós a capacidade de sonharmos outros mundos, para ativar em nós uma força adolescente que nos desloca, que nos empurra, que nos faz viver uma vida que tenha sentido e alegria.
Uma pausa, ou um encontro conosco mesmo, um olhar nos nossos olhos e avaliar: os adolescentes que fomos teriam orgulho do que nos tornamos?
Uma pausa para pensar e sentir os adultos que estamos em via de nos tornar (afinal, ainda que não tão evidente estamos em desenvolvimento).
E para isto, amigos, nada melhor do que estar entre iguais, já que em algum momento partilhamos futuros,
um abraço afetuoso,
Texto de Ana Paula Figueiredo Louzada!
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