domingo, 5 de janeiro de 2014

COMO UM TRÁGICO ACIDENTE PODE MUDAR UMA PERSONALIDADE

O terrível acidente que destruiu a personalidade de Phineas Gage

Daguerreótipo tirado de Phineas Gage anos depois

do acidente (Wikimedia commons)

Um dos estudos mais importantes sobre como o cérebro organiza nosso caráter foi realizado após o terrível acidente trabalhista que sofreu Phineas Gage, um trabalhador da rede ferroviária no estado de Vermon em meados do século XIX, quando uma barra de ferro de aproximadamente um metro de comprimento e três centímetros de diâmetro atravessou sua cabeça entrando pela face esquerda e saindo disparada pela parte superior do crâneo.
Apesar da gravidade do acidente foi surpreendente ver o operário levantar-se consciente por seus próprios pés e, ainda que um pouco aturdido, pode ser trasladado até sua casa. Ali foi atendido pelo Dr. John M. Harlow, o médico local da população de Cavendish, que lhe deu os primeiros socorros, sem ainda ter idéia de como recuperar o ferido do acidente fatal. Acreditava que tratava-se de um autêntico milagre o fato de que houvesse sobrevivido.
[Se for de seu interesse: Lobotomia, uma destruição do cérebro à marteladas cirúrgicas]

Phineas entrou em coma devido a uma infecção e uma segunda intervenção do Dr. Harlow foi vital para a recuperação. Em pouco mais de um mês, o jovem trabalhador de 25 anos voltava a levar uma vida normal, incorporando-se a seu posto de trabalho como capataz nas obras de construção da ferrovia.
Mas apesar de que os contratadores quisessem que conservasse seu emprego, teve que ser demitido por causa de sua brusca mudança de caráter.

Ilustração que mostra como a barra de ferro atravessou

o crânio de Phineas Gage (Xatakaciencia).


Phineas Gage havia sido um trabalhador exemplar e uma pessoa cordial até o fatídico 13 de setembro de 1848 no qual sofreu o terrível acidente. A partir de sua reincorporação trabalhista já não era o mesmo, seu caráter havia azedado, convertendo-se numa pessoa impaciente, blasfema e com uns modos mais próprios de um animal. Assim relatou o próprio Harlow num artigo publicado num boletim médico.
Antes desse já havia escrito outro artigo explicando o curioso acidente de Gage e como se recuperou rapidamente. Mas o pouco conhecimento desse caso por parte de outros médicos fez com que o relato do Dr. Harlow fosse recebido a princípio com incredibilidade, já que se pensava que era impossível para um ser humano poder sobreviver a uma lesão cerebral de tal magnitude.

O crânio de Phineas Gage e a barra de ferro

expostos em Harvard(Tecnoculto)

Mas houve sim que se interessasse pelo tema e quis chegar até Cavendish e investigar acerca do surpreendente caso exposto por Harlow. Um deles foi o prestigioso professor de cirurgia da Universidade de Harvard, o Dr. Henry J. Bigelow, que após examinar Gage informou que neste não havia ficado sequela alguma após o acidente, ainda que não tenha percebido suas mudanças de comportamento.
A partir dos escritos realizados pelo Dr. Bigelow muitos outros especialistas em neurologia e em estudos da conduta humana repararam nos relatos escritos do Dr. John M. Harlow e começaram a se interessar pelo caso de Phineas Gage, convertendo-se tudo numa referência na investigação do cérebro e chegando-se a demonstrar que tudo que está relacionado com nossos atos e caráter encontra-se localizado em distintas regiões do cérebro.
Por isso, atualmente especula-se que o acidente destruiu áreas do córtex pré-frontal direito do cérebro de Gage. Essa zona, justamente atrás da fronte, está relacionada comas funções cognitivas superiores próprias do ser humano. Isto é, que ao perde-las, o jovem perdeu a capacidade de controlar conceitos como a responsabilidade, oautocontrole ou o decoro social.
Phineas Gage viveu pouco mais de 12 anos após o acidente, mas sua vida não foi a mesma a partir daquele instante não tendo um trabalho estável e convertendo-se num homem pouco afável e de difícil trato. Morreu em 21 de maio de 1861 com a idade de 38 anos por causa de severa crise epiléptica.
Fontes de consulta: neuro.psychiatryonlinexatakaciencia / tecnoculto

Nenhum comentário:

Postar um comentário