Rayane escolheu ser mulher
Rayane é uma pessoa que escolheu ser mulher. Trocou os documentos, fez a cirurgia de
mudança de sexo e hoje é casada com um pescador e feliz
Por Luciana Maximo
Rayane é uma mulher que nasceu com órgãos sexuais masculinos e com a alma de
mulher. Ela tem 30 anos e trabalha como auxiliar de professora em uma das escolas de
Presidente Kennedy, filha de pai pescador e mãe manicure, cursa pedagogia e adora
trabalhar com crianças. Rayane dedica-se de corpo e alma ao que faz, é companheira do
marido, fiel, casada e feliz com a escolha que fez ao passar pelo processo cirúrgico,
trocar de documentos e residir no pacato balneário de Marobá.
Desde criança, ela se comportava como menina e aos três anos pedia à mãe que a
vestisse com vestidos, preferia bonecas nas brincadeiras. Aos seis anos, quando a mãe,
uma manicure, fazia as unhas de uma psicóloga, foi enfim compreendida por uma
profissional que avisou a mãe dela. "Leva essa menina ao meu consultório que ela
precisa de tratamentos. Mamãe me levou, a psicóloga pegou uma boneca e um carrinho
e disse: 'pega o que você quer brincar', eu peguei a boneca. Ela me perguntou por que
eu gostava de boneca. Nesse instante, fez várias perguntas e chamou minha mãe e falou
que eu tinha um transtorno de gênero. Minha mãe não sabia o que era aquilo. A
psicóloga falou que eu seria menina com um órgão sexual masculino, mas seria menina.
Disse que eu pensava como mulher e isso não teria como sair de mim e que jamais a
minha mãe conseguiria tirar o pensamento de mulher da minha cabeça. E ainda disse
que insistindo só me faria sofrer', contou.
Contou a acadêmica que, quando os pais se separaram, ela veio com a mãe para Marobá
e ficou até os 14 anos. "Eu era um menino/menina, mas quando entrei na puberdade as
coisas ficaram mais difíceis, meus amigos me obrigavam a ficar com meninas. Eu até
beijei algumas meninas, com cara de nojo, eu beijava por beijar. Aos 14 anos, eu beijei
o primeiro menino".
Professor preconceituoso
Ela não se conformava em ser objeto de brincadeiras, agressões e bullyng nas escolas e
sofria demais. Morando numa comunidade pequena, uma vila de pescadores, o
preconceito era maior ainda. Aos 14 anos, fez as malas, saiu de casa e foi para Rio das
Ostras. Lá, ela acabou vivendo como menina, sem ter que se preocupar com o que as
pessoas falavam. Entretanto, teve embates, sofreu assedio moral no trabalho, passou por
momentos muito difíceis, abandonou a faculdade no terceiro período de direito, pois
não suportou as reações preconceituosas até mesmo de professores. "Tinha um
professor na faculdade que não me respeitava e fazia questão de me humilhar. Eu acabei
desistindo da faculdade. Eu foquei na troca dos meus documentos. Eu via que não ia
conseguir nada, nem emprego".
Aos 18 anos, deixou o cabelo crescer e contou à mãe que era uma mulher. "Minha mãe
surtou, pediu que eu fosse homossexual e eu disse, não serei. Eu disse, sou uma mulher
e vou viver como uma mulher".
A cirurgia
Inconformada com os órgãos masculinos e a alma feminina, Rayane deu entrada num
processo judicial e conseguiu trocar seus documentos. Hoje, ela possui todos os
documentos com o nome feminino e assina como Rayane Batista de Morais.
O sonho era poder fazer a cirurgia e trocar de sexo de uma vez. Rayane foi uma das
poucas pessoas no Espírito Santo que conseguiu fazer todo o tratamento psicológico e
realizar a cirurgia pelo Sistema Único de Saúde – SUS. Ainda há preconceitos, mas só
de gente grande. A nova mulher passou por uma cirurgia e trocou de sexo.
O casamento
Ele, jogador de futebol, filho de pescador e pescador por profissão. Um ogro. De pouca
instrução, mas com uma postura admirável. Apaixonou-se pela acadêmica aos 16 anos e
a assumiu, perante a família e à sociedade. Eles estão há oito anos juntos. Ele já caiu na
porrada diversas vezes para defender a sua mulher. Eles se casaram e hoje formam um
casal feliz na pacata Marobá. "Quem nos vê acha que somos água e óleo. Ele é
totalmente bronco, machão, brigão, ele e aquele homem de roça, que fala palavrão e
xinga. É difícil ver ele casado com uma pessoa que decidiu por sua felicidade quando
optou por trocar o seu sexo. Eu o admiro muito, pois ele se apaixonou por mim e pela
pessoa que eu sou e passou por cima de tudo para ficar comigo".
Rayane é uma mulher linda, determinada, ousada, corajosa, independente e uma
profissional que se entrega ao que faz. Ela já viajou o mundo, morou nos EUA e teve
de tudo que almejou possuir, mas queria apenas ser feliz e encontrou essa felicidade ao
lado do jovem Rodrigo Cordeiro. Há oito anos ela se casou no cartório com o pescador
e vive feliz da vida no trabalho e em casa.
Foto: Rayne sozinha
E Rayane e Rodrigo
Legenda: Rayane fez a cirurgia e trocou de sexo, hoje é a casada e feliz, apesar de alguma
pessoas a julgarem.
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Ramon Barros Colunista Social, Consultor Comportamental p:+55 27 99589-9877 | m:+55 28 99882-8981 | e:ramonbarros@r7.com | w:http://www.ramonbarros.com | a:Espírito Santo - Brasil |
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