Nascido em 1874, Hine estudou sociologia e tornou-se professor na tradicional Ethical Culture Fieldston School, em Nova Iorque – escola ainda em atividade, por onde passaram nomes como Sofia Coppola, Gil Scott-Heron e Diane Arbus. Já em sua sala de aula a fotografia se fazia presente, como ferramenta de ensino. Hine costumava levar seus alunos à área portuária do estado para que registrassem os milhares de imigrantes que chegavam ao país diariamente.
Mas é no início do século XX que começa a parte de sua trajetória que nos interessa aqui. Em 1908, Hine foi convidado pelo National Child Labor Committee (NCLC) para registrar o uso de trabalho infantil no país – à época, bastante comum. Depois de quatro anos de luta sem sucesso, o comitê percebeu que o uso de estatísticas para a mobilização da sociedade e do governo não estava sendo suficiente. Era necessário dar vida aos números.
Ao longo de 16 anos, Hine cruzou os Estados Unidos registrando crianças nas ruas das grandes cidades, minas de carvão, fazendas e fiações de algodão. Para cada foto, anotava dados como nome, idade, altura, local de trabalho e salário recebido pelo pequeno trabalhador, o que resultou em um verdadeiro dossiê sobre o uso de mão de obra infantil no país. Uma vez publicadas, as imagens trouxeram os resultados esperados: a sociedade sensibilizou-se em torno do tema e a NCLC ganhou força para pressionar o governo. Em 1938, o Congresso incluiu reformas a respeito do trabalho infantil em seu Fair Labor Standards Act.
Hine em ação, cerca de 1910
O tom social se manteve em toda a carreira de Hine. Mesmo quando contratado para documentar a construção do edifício Empire State, em Nova Iorque, seu foco era claro: os trabalhadores da obra, imigrantes em sua maioria, submetidos a condições de trabalho verdadeiramente mortíferas. A série, hoje clássica, foi publicada sob o título “Men at work”.
Com o tempo, porém, suas fotografias ativistas saíram de moda, dificultando novos trabalhos. Hine morreu em 1940, em completa miséria. Por ironias da vida, muito frequentes no mundo das artes – alô, Van Gogh –, cada foto da coleção sobre o edifício Empire State vale hoje centenas de milhares de dólares.
Hine entrou para a história da arte como um dos pilares da fotografia documental, estudado por gente do calibre de Roland Barthes. Há em suas fotos um claro compromisso social, mas também uma preocupação com a qualidade artística e o desenvolvimento de um olhar autoral, como explica Alison Nordstrom, curadora de suas principais retrospectivas, nessa entrevistaaqui.
Abaixo, algumas imagens da série sobre trabalho infantil, que se encontra sob a guarda da Biblioteca do Congresso Americano (de onde tiramos as fotos). Esse acervo conta com mais de cinco mil fotografias, disponíveis online, o que é garantia de muitas horas de diversão.
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