Em meados do ano passado o comerciante capixaba Jorge Luiz Chamon, 54 anos, tomou coragem para dar um passo audacioso: abrir sua própria loja de eletrodomésticos no centro de Cachoeiro de Itapemirim, deixando para trás a experiência de dividir um negócio do mesmo ramo com vários sócios. Confiante, escolheu um ponto localizado em um trecho do comércio da cidade cercado de filiais de gigantes como Casas Bahia, Ponto Frio, Ricardo Eletro e a rede regional Dadalto. O negócio deu tão certo que Chamon já planeja construir um depósito e abrir uma filial na cidade.
Um dos motivos que encorajaram o comerciante a abrir a Cachoeiro Eletro foi a recuperação da indústria de rochas ornamentais (basicamente, granitos e mármores) na cidade. Mais conhecida como a terra do cantor Roberto Carlos e do escritor Rubem Braga, Cachoeiro de Itapemirim (o nome Cachoeiro é um erro de registro nos idos do século 19, referindo-se à queda d'água do rio Itapemirim) é o maior centro brasileiro dessa indústria. Perto de 70% da economia da cidade depende dela, segundo cálculos informais de empresários do local.
Depois de forte baque em 2009, o setor entrou em processo de recuperação no ano passado. As exportações cresceram 32,5%, após dois anos consecutivos de queda, passando de US$ 724,1 milhões para US$ 959,2 milhões - próximo do recorde de US$ 1,093 bilhão registrado em 2007 -, apesar do câmbio desfavorável.
Como o setor é basicamente formado por empresas familiares, não há um número definido, mas o presidente do Sindicato da Indústria de Rochas Ornamentais do Espírito Santo (Sindirochas-ES), Emic Malacarne Costa, avalia que no ano passado o faturamento total do setor, incluindo o mercado doméstico, foi próximo a US$ 2,5 bilhões. O mercado externo, majoritariamente Estados Unidos, é mais concentrado em granitos exóticos, com cores e desenhos variados, enquanto o mercado nacional prefere mármore e granitos clássicos (cores uniformes), em linha com o mercado europeu.
O Espírito Santo, de acordo com o presidente do Sindirochas-ES, responde por cerca de 68% do mercado total e no ano passado foi responsável por 71,3% do valor das exportações brasileiras do segmento.
O casal Marcelo e Sônia Secchin comanda duas serrarias - denominação das fábricas de beneficiamento de rochas - em Cachoeiro. A Nova Aurora Mármores e Granitos, fundada pela família de Sônia, é a maior, tendo chegado a 140 empregados (na fábrica e nas sete jazidas, ou pedreiras, que ficam em Minas Gerais), caiu para 80, mas está iniciando um processo de recontratações. É uma empresa de médio para grande porte, para os padrões do setor. Sônia não fala de valores, mas diz que o volume exportado alcançou 152 milhões de metros quadrados de chapas de granito polidas em 2006. Caiu para 85 milhões em 2009 e no ano passado cresceu para 119 milhões, uma recuperação de 40% sobre o ano anterior.
Praticamente toda a produção da Nova Aurora vai para o mercado externo, geralmente, para os Estados Unidos. Cerca de 5% vão para países como Canadá, Emirados Árabes e Kuwait. A Vigui Granitos, comandada pelo marido da empresária, é uma empresa de pequeno porte. Mesmo assim, segundo ele, chegou a exportar US$ 7 milhões em um ano, mas depois perdeu de 50% a 60% do mercado externo. No ano passado, recuperou parte das perdas e vendeu cerca de US$ 5 milhões, mais de 70% do que fora alcançado no pico.
"Há dez anos aqui ninguém (os adultos) falava inglês. Tivemos que ir para os Estados Unidos passar um período estudando", conta Sônia. Com a recuperação do setor, a Nova Aurora já pensa em investir na renovação do parque fabril. O objetivo é importar da Itália uma máquina de cortar as pedras com fios diamantados, substituindo os tradicionais teares que cortam com serras e aço em pó granulado (granália).
Dividida em dois galpões localizados em um bairro afastado do principal eixo das serrarias na cidade, que fica na estrada que liga o centro ao distrito de Soturno (local das principais jazidas de mármore), a Nova Aurora iniciou janeiro em ritmo menos intenso, mas o casal Secchin atribui a calmaria ao rigoroso inverno americano, que reduziu a atividade de construção civil no país. Segundo eles, a recuperação do mercado está mais baseada em reformas de imóveis do que em construções novas.
Cachoeiro, cidade do sul do Espírito Santo (a 153 km de Vitória) com cerca de 190 mil habitantes, concentra as indústrias de beneficiamento de rochas e a produção de máquinas, mas a maior parte do granito exportado é retirada de pedreiras localizadas no norte do Espírito Santo e em outros Estados, como Minas Gerais. Segundo Marcelo Secchin, a produção acaba fluindo para a cidade e região porque lá está o principal polo tecnológico do setor.
A preocupação com os custos e com os riscos decorrentes do transporte dos pesados blocos de pedras pelas estradas de mão dupla do Estado - o principal e mais perigoso eixo é a federal BR-101, que corta o Estado de norte a sul - está levando empresas a buscar expansão mais perto das jazidas. É o caso da Jaciguá Mármores e Granitos, considerada uma das empresas mais estruturadas do polo de rochas da região.
"As principais jazidas de pedras estão naquela região e eu preciso enxugar custos", argumenta o empresário João Batista Dalvi, 62, sócio-diretor da Jaciguá. Com 130 empregados, a empresa prevê investimentos entre o ano passado e este ano de aproximadamente R$ 8 milhões na aquisição de máquinas, já tendo comprado na Itália, o centro tecnológico mundial do setor, uma máquina de fio diamantado para corte.
Como não pretende paralisar os teares à lâmina do parque fabril atual, Dalvi avalia que não deverá cortar pessoal por causa da nova máquina, mas admite que dificilmente aumentará o quadro, mesmo aumentando produção e vendas. Dessas, o empresário só fala em percentuais. Com 60% da produção voltada para o mercado externo e 40% para o interno, ele diz que as exportações cresceram "de 40% a 50%" no ano passado graças a um esforço de conquista de mercados feito durante o período da crise desencadeada pela bolha imobiliária americana.
Isso sem contar com a venda de blocos de pedra bruta, algo que os empresários do setor não gostam de fazer, especialmente para a China. É que, segundo o presidente do Sindirochas-ES, os chineses conseguem importar o bloco do Brasil, beneficiar e exportar as pedras para o país de origem a um preço até 30% mais baixo que os do mercado doméstico. A maior parte das empresas só aceita exportar chapas polidas para o mercado chinês.
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